Pages

Ads 468x60px

Publicidade

quinta-feira, 31 de maio de 2012

CONCEPÇÃO DA ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM
SEGUNDO MOACIR GADOTTI

Reconhecido como maior especialista em educação que o Brasil já teve, o pedagogo Moacir Gadotti conhece de perto a pedagogia do oprimido, segundo a qual o sistema de ensino impõe os valores das classes dominantes aos menos favorecidos. Hoje é um ativista da educação para a sustentabilidade e afirma com ênfase que o planeta é um grande oprimido. Com o instituto Paulo Freire Gadotti participou da conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, foi quando surgiu a proposta de um tratado de ética que norteasse a criação de um mundo sustentável. Faltava uma declaração que incluísse todos os seres do planeta os humanos e os não humanos, e indicasse a melhor forma de relacionamento entre eles, foi lançado então A Carta da Terra, que solucionou essa questão. Gadotti ajudou a coordenar os textos relativos à educação durante o processo de redação da carta e hoje é um dos conselheiros da organização Carta da Terra Internacional. A sustentabilidade foi eleita o conceito chave na renovação da educação do século XXI pela UNESCO e a Carta da Terra é reconhecida como o documento orientador dessa “Nova Educação”. È preciso deixar de lado a pedagogia da era industrial, que tem uma visão produtivista e exploratória do planeta. A Carta da Terra é um documento fundamental nesse processo de mudança de paradigma: a terra tem que ser vista não apenas como um ser astronômico, mas, como um ser vivo. Não se muda o mundo sem uma nova teoria, sem uma nova lógica. Para mudar é necessário criar outra teoria, outra lógica, para além da lógica do capital e do seu mercado. Uma nova lógica de poder está sendo apontada pelos movimentos sociais através de suas ações globais pela justiça e paz, pela ética na política, pelo consumo ético e solidário que não destrói o planeta. Nesses, sentido, educar para um outro mundo possível é educar para superar a lógica desumanizadora do capital que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos, é educar para transformar radicalmente o modelo  econômico e político atual, como sustenta István Mészáros em seu belo livro A Educação  para  Além do Capital. Ao mesmo tempo, tudo isso tem a ver essencialmente com o sentido profundo que construímos para nossa vida. A responsabilidade não é apenas social. É também individual, pessoal. Para Gadotti,  educar para viver harmoniosamente no Cosmos é educar para outro mundo possível. Só assim poderemos entender hoje os problemas do aquecimento global, da desertificação, do desflorestamento, da água, do lixo e dos problemas que atingem humanos e não humanos. Os paradigmas clássicos, arrogantemente antropocêntricos e industrialistas, não têm suficiente abrangência para explicar essa realidade cósmica. Os paradigmas clássicos estão  levando o planeta ao esgotamento de seus recursos naturais.    
A crise atual é uma crise de paradigmas civilizatórios. Educar para outros mundos possíveis supõe um novo paradigma, um paradigma holístico.
Só o povo organizado pode fazer história. Os movimentos sociais contemporâneos não querem ficar na platéia, na arquibancada. A sociedade civil não pode assistir, tem que ser protagonista deste outro mundo possível, fazendo cobranças para que a esperança se torne realidade, porque o neoliberalismo ainda está vivo, muito vivo, ainda não foi derrotado. Segundo Gadotti a educação básica como o lugar de produção da liberdade, da criação do destino de cada um, de cada uma. Por isso, não cuidar da escola básica é não cuidar da nação, do destino da sociedade, da libertação de cada um. Para muitos, a escola básica é o único espaço público e democrático de que dispõem. Apesar do avanço na matrícula de crianças e jovens de 7 a 14 anos no ensino fundamental no Brasil, ainda existe o problema grave do abandono e da defasagem série/idade. As crianças pobres podem estar matriculadas na escola, mas sua cultura aí não está. Não basta incluir crianças na escola; é preciso incluí-las com uma nova qualidade.
Para ele o professor caminha lado a lado com a transformação da sociedade, não é um ente abstrato, ausente, mas uma presença atuante, participante e "dirigente", que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança.Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão  apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Por tanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente.    É  importante  pensarmos que para garantirmos o respeito às diferenças, à liberdade de ser e de pensar, tanto de alunos, educadores quanto  do papel da  família nos processos de participação nas escolas a democracia só se garante e se exercita no confronto entre as diferenças políticas, ideológicas, sociais, psicológicas, entre outras.Esse confronto, porém, para ser democrático precisam fundamentar-se na ampla possibilidade de informação, de reflexão, de conhecimento, de crítica, de parceria entre instituições governamentais, sindicatos voltados para educação, escola-família e no equilíbrio de forças, que garantam a discussão e a viabilidade das propostas voltadas para o estabelecimento do paradigma holístico do ato de educar. Segundo Gadotti o Brasil não conseguiu até hoje erradicar o analfabetismo,
primeiro porque existe um atraso secular de décadas, um atraso crônico na educação brasileira, que vem desde os jesuítas, a colônia, o império, a república. Nós despertamos para a educação no século XX, na década de 30, já que na década de 20 tivemos as primeiras formações de educadores. Então, esse atraso é crônico, o esforço é muito maior do que o esforço de dois governos. O analfabetismo é a negação de um direito. O analfabetismo tem a ver com um conjunto do bem viver das pessoas. Imagina agora: chegamos a ter mais de 300 classes de catadores de produtos recicláveis de lixo. Imagina que a pessoa está na rua das 5 horas da manhã até as 7 horas da noite, catando lixo, e às 7 horas da noite vai para uma sala de aula. É muito difícil essa pessoa ter condições, depois de um dia passando fome, de se alfabetizar. Então, as condições sociais são determinantes. Condições sociais de moradia, de trabalho, de emprego, de saúde, fora a educação. A educação não está desligada, não é um problema setorial, é um problema estrutural com os outros condicionantes. Então, a qualidade da educação tem a ver com esses outros fatores, está ligada. Não estou dizendo que precisa primeiro resolver o problema da moradia, do emprego, do transporte, para depois resolver a educação. Isso vai ser junto. O nosso analfabetismo é muito maior do que de outros países da América Latina. O do MERCOSUL, por exemplo, é 2,5%, 3%, o nosso é 9,8%, são 15 milhões de pessoas. Vou dar dois pontos onde o atraso continua, em que nós paramos, simplesmente estacionamos: educação de adultos, nós praticamente estacionamos nos analfabetos.
Gadotti apresenta a educação como ponto fulcral de seu texto, pois que não se refere a educação que estamos vivenciando. Está falando de outra coisa muito mais sublime que ao tratar por educação demonstra: humildade e depois mau gosto. Humildade: pois equiparar as idéias que colocou com educação com certeza desvaloriza muito o seu esforço. Mau gosto: pois o pejo que carrega a palavra Educação dentro de uma visão deformadora dos seres humanos (Freud), que procura moldar dentro de uma lógica mercadológica de produção e consumo (Granmsi), instrumentalizada de uma maquinaria que não visa à aproximação, mas o assemelhamento (normalização), só nisso já faz com que seu fedor seja insuportável. A escola deve deixar de ser selecionadora e precisa ser gestora do conhecimento. Deixar de ser lecionadora. Uma escola que puramente leciona deixa de ter sentido numa era da informação. Não é mais importante acumular informação, mas saber pensar, saber organizar o trabalho, saber gerenciar o conhecimento. Há uma nova escola dentro da velha escola. E esse parto é muito doloroso, porque ensinamos como aprendemos na velha escola. A seriação exige um tipo de avaliação, que privilegia apenas a disciplina. A escola nova não avalia quanto um aluno sabe Português, Matemática, por exemplo, mas avaliam primeiro o sujeito, seu ritmo, dificuldades e problemas. A avaliação deve ser o ato de acolhimento do aluno e depois deve avaliar a relação dele com o conhecimento. A repetência existe em função das séries. Se não tem série, você tem avanços progressivos dentro de um conteúdo, de um contexto curricular. Em vez de só avaliar Matemática, leva-se em conta o quanto ele participa, o quanto ele sabe organizar seu trabalho. Saber organizar, participar, ser disciplinado, não só suas atitudes e conteúdos disciplinares são fatores decisivos na formação de um indivíduo. Todos somos vítimas, mas todos são determinantes de uma situação. Não é a palavra adequada falar em vítimas e culpados. É que nós não sabemos agir sob nossas determinações culturais, econômicas, sociais. Por isso Paulo Freire foi genial. Ele dizia que a educação é acima de tudo um ato de libertação. É uma prática de liberdade.  Não há o tempo determinado para a aprendizagem. Vale tudo para aprender o tempo todo. Quanto mais amadurecido se está, mais condições se têm. A criança traz muito novidade. Veja como uma criança chega de um final de semana agitada, cheia de coisas para falar. Isso é um saber e esse saber deve ser respeitado e trabalhado. Esse universo da criança é muito pouco respeitado. Os módulos de progressão respeitam o ritmo dos alunos. Um estudante pode melhorar seu conhecimento em Matemática se tiver mais tempo além daquele determinado no calendário escolar. Não é justo fazê-lo retornar ao ponto de partida. A escola precisa ser reencantada, encontrar motivos para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente mais animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para se dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele permite um avanço. Se for aceito como uma fatalidade, ele torna a escola um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede as pessoas de sonhar, pensar e criar. Não se deve perder o censo crítico e a capacidade de sonhar. Um professor que não sonha que não pensa que não tem um projeto de vida é incompetente. Faz parte da competência dele a utopia, o sonho, o compromisso, a vontade de mudar as coisas. Porque ele educa um mundo que está em construção, portanto o sonho faz parte do projeto educativo. Infelizmente, há um desencantamento, mas existem pessoas com muita vontade e são essas pessoas que fazem que a escola pública tenha um sentido. Os alunos pobres, da escola pública sofrem de um mal chamado estigma. A passagem do ambiente da casa para a escola do aluno de classe média é natural porque ele tem em casa lápis, jornal, revista e discussões. A escola acaba sendo um prolongamento de sua casa. Nas classes populares, essa passagem é diferente. Os pais são analfabetos, não discutem e não dispõem de materiais. A escola é um mundo diferente, então ele precisa de mais esforço. A criança quer aprender por mais hostil que seja seu ambiente familiar. A escola deve seduzi-lo para o conhecimento. O professor precisa ter sensibilidade e menos preconceito. Ninguém chega pronto na escola, portanto ele tem direito à educação independente de qualquer previsão que se tenha dele. Professor não é místico. O professor idealiza uma classe de alunos da classe média. Ele fica desencantado porque não é esse aluno que ele vai receber na escola pública. A realidade é outra, é dura. Ele precisa se compenetrar, saber que esse aluno precisa ser encantado, que antes de ensinar Português é preciso seduzi-lo para o Português. É preciso mais diálogo, envolvimento e aceitação.  O primeiro ferramental para esse professor é o diálogo. Vale lembrar Paulo Freire, que foi genial ao colocar quatro passos para esse caminho: Primeiro, ler o mundo. Despertar o aluno pela curiosidade. Segundo, compartilhar o mundo. Isso exige solidariedade com o outro. Perguntar sempre ao próximo: que leitura você faz desse acontecimento, dessa realidade? Terceiro, construir o conhecimento coletivamente. Quarto, dialogar, sempre. Precisamos criar novos vínculos, novas relações sociais e humanas para que se consiga o sucesso. Não podemos mais deixar que nossos alunos fracassem, mas ensiná-los a superar os próprios limites. Aprendizagem é um processo em anel retroativo-recursivo que transgride a lógica clássica, em direção a um nível cada vez mais integrado ao todo. Esse conceito de aprendizagem não visa a acumulação de conhecimentos pelos alunos, mas pretende que estes dialoguem com os conhecimentos, reestruturando-se e retendo o que é significativo. Portanto, educar é fazer com que os jovens dialoguem com o conhecimento. Cuidar da autorreferencialidade através da multirreferencialidade. Gadotti traça uma rápida e condensada trajetória da educação e apresenta: “A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual.” E ainda mais: “Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico”. Destaca: “não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra”.

0 comentários:

Postar um comentário

 

Sample text

Sample Text

Sample Text