Os temas educacionais abordados na obra de
Dermeval Saviani, são polêmicos,
tratando do analfabetismo relacionado com a causa da marginalização;
responsabilizando a ação discriminatória da escola por marginalizar sujeitos
que já vem de uma situação econômico-social injusta, analisando, classificando
e ‘jogando fora’ da dita sociedade ‘certa’, os sujeitos que não se adaptam ao
modelo escolar.A marginalização também pode ser detectada no fato da escola não
acolher a cultura diferente da sua. O conhecimento que o aluno traz consigo
deve ser valorizado, pois uma cultura não pode ser avaliada em mais ou menos
importante ou interessante, que outra.
No seu estudo sobre as teorias, ele analisa
que na pedagogia tradicional, a
educação é vista como direito de todos e dever do Estado. Como a falta de
educação é característica dos marginalizados, a escola aí já entra como
agenciadora da sociedade analisando os sujeitos (ainda criança), preparando os
escolhidos e excluindo(jogando ás margens) os ‘imprestáveis’. Para Dermeval
Saviani, no livro Escola e Democracia, a escola deveria ser um espaço de
equidade, esta ideia tem sido estimulada, devido ao seu entendimento de que um
bom ensino reflete na vida social, preparando o individuo para o futuro. Nesta
obra, o autor relata a ideia de estudantes excluídos por serem conceituados,
lançando-os fora do sistema de ensino-aprendizagem. Saviani analisa que essa
questão é extremamente prejudicial, pois traz danos quase que insolúveis para a
sociedade, uma vez que as pessoas envolvidas na arte de educar, podem de alguma
forma trabalhar na profilaxia e combate a desigualdade cultural e social.
Surge com a Escola Nova um
movimento de reformulação da pedagogia tradicional, só que a injustiça agora
será feita com os sujeitos que têm necessidades especiais, são segregados e
discriminados como inaptos(inúteis).
O Tecnicismo – uma educação em massa-
com a finalidade de preparar mão de obra especializada para operar máquinas;
que sejam práticos, obedientes, completamente adaptáveis aos comandos e aos
trabalhos geralmente repetitivos. Os sujeitos que pensam diferente ou não se
adaptam ao sistema seriam taxados de preguiçosos, incompetentes e ineficazes.
Mais uma vez a instituição escolar serviu de ‘setor de triagem’ pro sistema
operante. Essas três teorias trabalharam em favor da classe dominante em
detrimento das classes desfavorecidas. Reproduzindo terrivelmente as ‘castas
sociais’.
Ainda hoje persiste a prática dessas teorias
nas escolas, que funcionam como fábricas que seleciona matéria prima, prepara
os considerados ‘bons’ e joga fora o ‘resto’ (o que não serve). Seguindo em sua
preocupação máxima de produzir
trabalhadores, capazes de trabalhos mecânicos, repetitivos, como robozinhos preparados
e alimentados para cumprir sua função(só não podem é ter tempo nem oportunidade
de estudar mais
ferramenta
de manipulação ideológica e classissista; reforçando as diferenças ao invés de
incentivar a mudança. Minimizando o caos causado pela injusta divisão de bens.
A
pedagogia sofre uma revolução em sua essência com a tese histórico filosófica,
de caráter revolucionário da pedagogia da existência. Neste momento,
pode-se refletir sobre a história do homem e a influência desta na educação, as
mudanças sociais e a luta de classes, trazidas com o capitalismo e seus
reflexos na educação .Essa teoria pretende levar o sujeito aprendente a
indagar-se ‘o que eu quero dizer com isso”; levando o sujeito a refletir sobre
suas atitudes e pensamentos frente aos acontecimentos mundiais, sua própria
história humana, sua influência no sistema educacional, as lutas de classes, as
mudanças conhecidas e as esperadas.
A relação social na sociedade pós-feudal e
atual capitalista é analisada pela tese Pedagógica-metodológica.
Seu foco é a liberdade. Enfatiza que os
homens nascem livres e iguais e que assim
naturalmente deveriam permanecer.
São propostas para mudanças na estrutura
educacional, formas de gestão descentralizada, fundamentadas em processos
participativos, com ciclos de aprendizagem e currículos multiculturais,
servindo-se de métodos de ensino ativos e avaliação formativa. Na prática
educacional democrática caberá ao professor o papel de reforçar a capacidade
crítica do aluno, a insubmissão às leis injustas e um posicionamento frente à
sua responsabilidade de escolha política. Será considerado um sujeito ético
politicamente se, além de conhecimentos científicos, pratica autonomamente ações conscientes, voltadas
para a transformação e a decência pública. Esta Educação deverá ser, na vida do
aluno, uma experiência inovadora,, que desenvolva a criatividade, a criticidade
e autonomia , dando a cada um a condição de se libertar da situação opressora;
num contexto em que a política pública, participe da educação, aprovando leis
que possa torna-la mais democrática, estará preparando futuros políticos que
tenham uma visão melhor, mais humanitária e o futuro escolar se torne menos
hostil. Pois quanto mais educada e preparada for a sociedade, mais participará
e cobrará atitudes acertadas dos políticos.
A educação que deveria ser uma porta aberta
ao excluído de outras políticas sociais, se tornou uma ferramenta de
manipulação ideológica e classissista; reforçando as diferenças ao invés de
incentivar a mudança para tentar minimizar o caos causado pela injusta divisão
de bens.
O
autor se refere a política interna da escola como a “Teoria da Curvatura da Vara’ ;
que como uma vara, se curva a uma e a outra teoria tentando se acertar
na história da educação. Nas falas de Lênin, é incentivado a quebrada desse
modelo educacional reprodutor da sociedade , e é enfatizado a mudança no modelo
de ensino em que a escola deverá se posicionar ativamente a favor de um sistema mais justo e igualitário,
sem os tais privilégios de classe. Sendo necessário para isso formar cidadãos
conscientes, das lutas sociais, das formas de dominação ideológica, de sua
contribuição para esse sistema atuante
continuar ou não, através de ensinamento desenvolvidos nas salas de aula.
Mudando o discurso dos professores (operários), servindo agora ao seu
semelhante e não à ideologia de uma classe, que explora, aborta os sonhos,
paralisa e sacrifica a maioria . Como bem cita Charles Chaplin há muitas décadas,
mas que se faz atual:
...’ Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de Lucas, está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem- não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto, em nome da democracia- usemos desse poder, unamo-nos todos nós, lutemos por um mundo novo... um mundo bom, que a todos assegure o ensejo do trabalho que dê futuro à mocidade e segurança à velhice...”
Através
de seu brilhante estudo de resgate e compreensão da história da educação
brasileira, Saviani faz provocações, no que diz respeito às questões de
influência histórico-política nos papéis da escola na vida social. Deixa bem
claro o papel do professor como transformador desta realidade educacional, e
propõe, abre possibilidades para debates e discussões a respeito da relação
educativa estar usando o educador a serviço do educando ou ás políticas
governamentais do sistema vigente. Em contrapartida Saviani deixa claro seu
pensamento de que a escola não resolve todos os problemas dos alunos, porém,
ajuda-os a perceberem que podem contribuir para a melhora de suas próprias
vidas.
Para o referido autor ensinar é produzir
conhecimento, de modo que haja absorção dos conteúdos, promovendo assim
igualdades de oportunidades transformando o meio em que vivem.
Dermeval acredita também que problemas de
ordem familiar, nutricional, emocional, cognitivo,são principais causas da evasão escolar; A
comunidade escolar deve lutar, também contra toda forma de discriminação dos
alunos e contra a educação seletiva, pois estas também são fortes
causas do fracasso escolar.
Concluindo suas observações sobre o ensino no
livro Escola e Democracia (1987), Saviani, ressalta que o ensino não é apenas
pesquisa, onde os professores buscam e os alunos atuam apenas como receptores,
mas deve ser usada como meio de se levantar questionamentos, a fim de que haja
também resolução de problema, transferindo para os alunos a
responsabilidade/capacidade de pensarem e se posicionarem diante dos desafios
cotidianos da vida.
Através da análise de algumas obras do
autor, é possível perceber que embora este se mostre otimista – apresentando
soluções para melhorar o sistema educacional no país, a partir de uma análise
histórica dos fatos -, Saviani apresenta sua obra de maneira realista,
destacando os erros de um sistema de educação que desde os primeiros passos
letivos foi corrompido e repleto de falhas, realizando um paralelo entre a
política e a educação. Sua obra por
tratar de questões fundamentais da Educação
brasileira, gerou a condição de uma obra que transcende os limites críticos da
realidade; sendo sua marca principal a solidária militância.
O autor analisa em sua obra a relação entre
sociedade e escola na história brasileira, enfatizando a responsabilidade da
escola na transformação, não de mundo, mas do sujeito aprendente, ajudando-o a
enxergar o mundo com olhos críticos, percebendo seus movimentos, acontecimentos
históricos- sociais e saber seu papel dentro do sistema, seus direitos,
deveres, se posicionando para alcançar um país melhor para si e pros outros
(participando do processo de mudança).
Saviani nos faz refletir sobre o papel da
escola na sociedade e também na
revolução que pode acontecer com a escola se posicionando a favor de justiça
social e o professor atuando com seu papel de agente social, que busca o
conhecimento, analisando suas causas e compartilhando esse saber com clareza e
responsabilidade.
Sua
atividade intelectual, sempre a serviço da contra-ideologia, destina-se a
explicitar valores necessários à libertação dos oprimidos.
A teoria da “curvatura da vara’ entende-se
como uma sugestão para que uma sociedade se desperte e caminhe para alcançar
aquilo que pela lei já temos – uma educação de qualidade (??), igualitária(??)
e o direito de cidadania para todos.
Assim acontece a envergadura da vara, uma teoria propõe uma coisa, quando não
da certo, enverga pra outro lado, até acharmos a solução para a sociedade de um país de tantas expectativas e tantas desigualdades.
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